Muitos eventos climáticos extremos (como secas severas, ondas de calor, enchentes e tempestades intensas)
Muitos eventos climáticos extremos (como secas severas, ondas de calor, enchentes e tempestades intensas) já estão afetando o Brasil e devem se intensificar nas próximas décadas. Esta previsão, feita no relatório Mudança do Clima no Brasil, está diretamente relacionada ao aquecimento global.
Segundo o documento, nosso país tem experimentado um aquecimento sem precedentes nas últimas seis décadas, com algumas regiões registrando aumentos de temperatura que chegam a 3 °C acima da média global nas temperaturas máximas diárias. O número de dias com ondas de calor aumentou de forma dramática, saltando de sete para 52 dias entre o início da década de 1990 e o começo da década atual.
Lançado em novembro, o estudo é um recorte para o Brasil do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e de outros estudos científicos atuais, e resultou de uma parceria entre o Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação, Rede Clima, WWF-Brasil e Instituto Alana.
O AR6 do IPCC publicado entre 2021 e 2022 mostrou que, entre 2010 e 2020, a mortalidade por desastres naturais foi 15 vezes maior em regiões vulneráveis quando comparada às mais resilientes. Em 2010, situações de calamidade pública em Pernambuco e Alagoas causaram 20 mortes, deixaram 30 mil desabrigados e geraram prejuízos de US$ 1 bilhão.
Segundo este órgão da ONU, eventos climáticos extremos causaram perdas de US$ 3,8 trilhões ao setor agropecuário global entre 1991 e 2021. No Brasil, a seca na região Sul (2019-2020) causou prejuízos de R$ 13,4 bilhões na agricultura, enquanto as regiões Sul e Centro-Oeste perderam US$ 15,3 bilhões na safra 2022-2023.
As secas extremas ocorridas em 2023 afetaram rios da bacia amazônica, e isolaram comunidades ribeirinhas e indígenas. Populações vulneráveis, aí incluídos pequenos agricultores e comunidades tradicionais, são geralmente as mais impactadas pelas mudanças climáticas. Isso ficou evidenciado entre 2014 e 2016, quando, mesmo com aumento das chuvas, a população da região sudeste enfrentou uma séria crise hídrica.
Segundo o IPCC, as projeções para 2050 indicam que, se o aquecimento global atingir 2 °C, os impactos na saúde humana e agricultura serão significativos. Nesse cenário, a população afetada por enxurradas no Brasil aumentará entre 100 e 200%, e doenças transmitidas por vetores, como os da dengue e malária, aumentarão o número de mortes.
A Amazônia, por exemplo, deverá perder 50% da cobertura florestal pela combinação de desmatamento, condições mais secas e aumento dos incêndios. O fluxo dos rios será reduzido, a seca afetará vários estados do norte do Brasil, e os estoques pesqueiros poderão cair em 77%, com redução de 30% a 50% dos empregos no setor. A região nordeste, que abriga quase 55 milhões de pessoas, poderá ter 94% do território transformado em deserto.
Habitantes de grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, poderão ficar expostos à escassez de água. Com base em um cenário de mais 2 °C, em 2050, 21,5 milhões de pessoas em áreas urbanas deverão ser afetadas tanto pela quebra do ciclo hídrico quanto pelo impacto nas safras.
Para enfrentar esses desafios, os pesquisadores enfatizam a necessidade de manter o limite de aquecimento em 1,5 °C na temperatura global, e rever as políticas nacionais de redução de emissões. “As metas brasileiras não têm correspondido ao tamanho da redução das emissões que cabem ao país”, afirma o relatório.
Os ajustes imediatos recomendados pelo estudo incluem: zerar o desmatamento em todos os biomas, implementar programas de pagamentos por serviços ambientais, desenvolver agricultura de baixo carbono e adotar sistemas agroflorestais integrados. Outras saídas são a gestão integrada dos recursos hídricos e sistemas agrícolas resilientes.
Finalmente, o relatório destaca a cooperação internacional no financiamento climático, desenvolvimento e transferência de tecnologias limpas. No caso das áreas urbanas, o documento recomenda soluções baseadas na natureza, como aumento de áreas verdes e sistemas de drenagem natural, além de investimentos em transporte público de baixo carbono.
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